(Zequita)
Por esse tempo, eu já ‘’arranhava’’ um
violão e conseguia fazer as posições básicas para a marcação (acompanhamento)
de compassos e ritmos mais simples como Cateretê, Toada, Moda Campeira, Cururu
e outros.
Desenvolvi essa pequena noção que
tenho, de tocar violão, apenas observando aos que sabiam tocar.
Principalmente o meu irmão mais velho,
o Antonio (Tõe), que a essa altura havia formado dupla com outro cantador de
músicas sertanejas e participavam de vez em quando, como convidados de
programas na pioneira Rádio Clube de Goiânia, com os pseudônimos de
"Campeão & Rouxinol".
Acervo José Ricardo de Souza (Zequita)
Campeão e Rouxinol.
1.954
(Não Gravaram Disco)
Campeão possuía um violão Dinâmico,
tipo de violão que, naquela época era considerado um instrumento de altíssima
qualidade. Mas o mano tinha tanta estima pelo tal violão que não me permitia
sequer segurá-lo.
E, quando não estava com ele nos
braços, ensaiando alguma moda do seu repertório, mantinha-o guardado num
estojo, que para o meu desalento era trancado com uma chave que permanecia
sempre no bolso do ciumento dono.
Campeão não se interessou em gravar
discos, cantando.
Desfez a dupla e dedicou-se a compor
músicas que vários intérpretes gravaram.
Ele não foi um compositor de
quantidade, mas, de qualidade.
Seu trabalho é admirado até hoje pela
originalidade dos temas e a autenticidade do estilo.
Das suas composições que foram gravadas
em discos, as mais conhecidas pelos apreciadores do gênero são: "Canoa de
Jacarandá" (Trio da Vitória), "Meu Fracasso" (Tião Carreiro
& Carreirinho) e "Tocando Berrante", música gravada por Colibri,
Ninão e Nhozinho (Trio Enamorado). ‘“CANOA
DE JACARANDÁ” Cópia original.
Escrita a mão pelo Autor, quando a
música foi composta em 1954.
O tempo passava as nossas dificuldades
financeiras, não.
Tínhamos alguns parentes bem
alicerçados, mas, nenhum deles se dignou sequer a nos transmitir uma orientação
que pudesse nos servir de bússola, na busca de caminhos onde conseguíssemos
visualizar oportunidades de crescimento.
O único apoio que recebemos na nossa
sofrida infância e também na adolescência veio da frágil mulher chamada Maria
Rosa da Piedade, com o seu exemplo de Fé, de resignação e de esperança, na sua
firme convicção de que dias melhores viriam.
E vieram. Pouco a pouco, é verdade, mas
vieram.
Santa criatura, que Deus bondosamente
enviou a este mundo com a missão de se tornar nossa Mãe.
O irmão mais velho (Campeão) retomou os
estudos deixados de lado por um longo período.
Foi aprovado em um concurso dos
Correios e Telégrafos e assumiu a função de carteiro.
Dadas às circunstâncias, consideramos um
grande feito. Esse acontecimento permitiu que mais tarde ele se formasse em
Direito e se tornasse um bem sucedido Advogado.
O Osmar (Borracha) tornou-se assim como
eu, lustrador de móveis.
O Evando (Zinho) tirou Carteira de
motorista e foi trabalhar na Empresa de ônibus que fazia o transporte coletivo
local. Zé Ricardo (Zequita) após passar pelo inevitável estágio de servente de
pedreiro, aprendeu a profissão, que exerceu por algum tempo, depois também se
tornou motorista e foi trabalhar no transporte de cargas. O Jair (Nãna)
trabalhou algum tempo em marcenarias e posteriormente montou sua própria
oficina de reformas de móveis: Reformadora Corneta (nome bem apropriado,
diga-se de passagem). Helena (Tília) e Iolanda (Pita), as mais novas da
irmandade, também deixaram de estudar após completarem o curso primário.
Eu trabalhava, brincava (quando podia)
e me apegava cada vez mais a idéia de me tornar um artista, cantador de músicas
sertanejas.
A essa altura minha mãe, cansada, já
começando a sentir o desgaste provocado pelas agruras vividas e o peso dos anos
apoiado em seus frágeis ombros, já não interferia em nossas decisões nem nas
nossas escolhas.
Ela não tinha muito que nos ensinar,
pois nada lhe fora ensinado.
Assim, chegamos ao ano de 1.956.
Eu já havia conhecido outros tantos
‘‘desmiolados’’ que também sonhavam exercer a tão desacreditada (na época)
profissão de Artista Sertanejo que era (e é, até hoje), chamado de caipira.
Houve frustração para muitos.
Mas, para outros tantos, a sorte sorriu
e se tornaram mais tarde, bem mais tarde, nomes importantes na música
brasileira, como se verá no decorrer desse despretensioso relato. Quero deixar
bem claro que não tenho a intenção de fazer análises sobre a música sertaneja,
suas origens e sua evolução.
Minha pretensão é registrar o
desenrolar da minha própria jornada de vida, que de certa forma esteve sempre
entrelaçada com o meio musical e mais particularmente com o segmento musical
sertanejo, do Brasil.
Mais particularmente ainda, com o meio
musical sertanejo, de Goiás.
Não vou falar nada que outras pessoas
me falaram.
Vou falar sobre acontecimentos que eu
presenciei.
Não foi ninguém que me contou, eu
estava lá.
Dei algumas ’’paietadas’’ com uma meia
dúzia desses candidatos a violeiros, mas tudo de maneira muito informal, de
forma amadorística mesmo.
Uma cantiga aqui, outra ali, nos
botecos da ‘’Campininha’’, nos palcos dos parques de diversão e principalmente
nos ranchos de palhas na festa da Trindade, onde havia danças e modas
sertanejas além do atendimento profissional das prostitutas que ali exerciam a
sua profissão (a mais antiga de todas), e com certeza a mais humilhante.
Fiz dueto com cantadores dos quais eu
me lembro bem.
E foi um aprendizado valioso.
Aprendi a frequentar ambientes
perigosos, imorais, repletos de vícios e de práticas ilegais, brutalidade sem
quantia, onde imperava o instinto animal, nas imperfeições dos mesmos, sem,
contudo me contaminar naquela sórdida podridão.
Graças a Deus. Mas, voltemos ao assunto
das cantigas.
Como já disse fiz parceria com alguns
iniciantes, amadores, iguais a mim, tentativas que acabaram dando em nada.
Quero registrar aqui, duas dessas
malogradas experiências, mas, que foram muito úteis como aprendizagens.
Acervo pessoal Oswaldinho Cantei com o
Oswaldo (Tuta), lá de Caturaí - GO, primeira voz excelente, bonita mesmo.
Formamos a dupla “Osvaldinho &
Chiquinho”. Mas, pela nossa imaturidade e pela falta de recursos financeiros
nossa parceria teve curta duração.
Nivaldinho
(Relâmpago) Cantei com o
"Relâmpago", sanfoneiro cantador, lá de Itauçu - GO. Nossa dupla
chamava-se: "Relâmpago e Chiquinho".
Depois ele passou a usar o pseudônimo
de Nivaldinho.
Era segunda voz, mas, na nossa
improvisada dupla, fazia a primeira. Tinha uma voz danada de feia, mas tocava
sanfona como gente grande, além de ser um ótimo companheiro.
Com ele aprendi muitas coisas,
inclusive beber cachaça, o que, aliás, aprecio até hoje (com moderação, é
claro).
Fizemos até um programa de rádio (Rádio
Karajá, de Anápolis) durante uns seis meses.
Sinto saudade desses companheiros com
quem dividi por algum tempo a esperança-sonho de um dia tornar-me um artista
sertanejo profissional.
Fonte http://blogdomarrequinho.blogspot.com.br
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